Cantador de Chula

esse canto é meu.

Projeto Cantador de Chula lança CD duplo e DVD

Finalmente chega ao público o CD duplo e o DVD do Projeto Cantador de Chula, que estarão a venda durante o lançamento do projeto em Salvador, dia 20 de outubro, no Espaço de Cinema Unibanco e em Santo Amaro, no dia 24 de outubro na Casa do Samba. O CD duplo, com direção artística de Katharina Döring e o produtor fonográfico Tadeu Mascarenhas, traz cada um, uma seleção de doze músicas e mais uma faixa bônus , vindo acompanhado de encarte com textos da pesquisa histórica, musical e sócio-cultural e fotografias dos 16 mestres retratados .O repertório passeia pela diversidade sonora das chulas cantadas nas diferentes zonas abrangidas pelo projeto. O documentário “Cantador de Chula” , dirigido por Marcelo Rabelo, que traz recortes da vida dos 16 mestres de chula, será lançado conjuntamente em DVD. Das 3000 cópias produzidas do CD e do DVD , a maior parte será destinada às comunidades de samba de roda e à distribuição gratuita.

Espaço Unibanco exibe “Cantador de Chula”

O Espaço de Cinema Unibanco exibe o documentário Cantador de Chula, dirigido pelo fotógrafo e documentarista Marcelo Rabelo, no dia 20 de outubro, às 19 horas. O longa-metragem retrata o universo da chula, canto principal de algumas modalidades de sambas mais presentes no interior da Bahia, que se caracteriza por sua técnica vocal específica e pela improvisação de versos. A gravação do documentário abrangeu 16 localidades do Recôncavo e Agreste baiano, registrando os depoimentos, os cantos tradicionais e as chulas entoadas pelos mestras e mestras da tradição. Após a exibição, o público poderá tirar as suas dúvidas sobre detalhes da produção num bate-papo com o diretor e alguns mestres do samba chula. Confira o trailer:

Festa no lançamento do Projeto Cantador de Chula

O lançamento do Projeto Cantador de Chula será com  grande festa em Santo Amaro da Purificação, no dia 24 de outubro, a partir das 15h. No início da tarde, a programação oficial será aberta com a mesa  composta por representantes do Ministério da Cultura, autoridades locais e  patrocinadores. Em seguida, o cantor e compositor Gilberto Gil  e os Mestres do Samba Chula receberão homenagens, em função de suas valiosas contribuições para a salvaguarda do samba chula como patrimônio imaterial da humanidade. O evento prossegue com a exibição do documentário “Cantador de Chula” de Marcelo Rabelo no Teatro Dona Canô. Para encerrar a programação, o Grupo Samba Chula de São Braz e a Roda de Samba com os mestres do projeto animarão a noite com o repertório variado de sambas chulas na Casa do Samba. No evento, estarão a venda os DVD’s e CD’s resultantes do projeto. Confira a programação na íntegra.

Seguindo os passos da chula

A pesquisa de campo foi desenvolvida durante dois meses, entre agosto e setembro de 2008. Todos os mestres foram visitados nos seus respectivos municípios, exceto Mestre Ananias (que vive em São Paulo). Foram gravadas uma média de 30 horas de entrevista. As entrevistas obedeceram a um roteiro. Os temas abordados foram  a história pessoal do mestre e sua entrada no samba de roda; o modo como se deu a formação do mestre como sambador ou sambadeira; como cada mestre definia o samba chula; as dificuldades de transmissão do saber do samba chula. Acreditamos que através deste roteiro poderíamos ter uma compreensão específica do samba chula e da trajetória de cada mestre, mas ao mesmo tempo identificar o que era comum e favorecia a compreensão do samba chula com um dos estilos do samba de roda. Por outro lado, acreditamos que desta forma perceberíamos de que maneira um modelo de relações pessoais do passado, valores morais, concepção de mundo, acesso a informação, musical inclusive, determinou em boa medida o formato do samba chula e as dificuldades de transmissão do mesmo para as novas gerações.

Por Ari Lima

Toque da Viola: Influência do Brasil e da Àfrica

O modo como o ritmo e articulação de frases melódicas são executados pelo machete neste estilo de samba pode ser comparado ao modo como os povos de língua Bantu expressam a sua musicalidade, ainda na atualidade. Durante séculos de convivência, africanos e brasileiros fizeram  nascer novos estilos musicais, a exemplo dos sambas brasileiros. Tais padrões de ritmo e melodia são reproduzidos também pelos violeiros sambadores, que os denominam “toques”, ou “tons”. Na roda de Samba Chula, é a viola quem cumpre o papel de executar os “toques” ou “tons” responsáveis por dar início à festa, para inspirar e entoar a dupla de cantadores de chula e para dialogar com os passos miudinhos e requebros da dançarina.

(Por Cássio Nobre)

Gravação de CD captura a energia do samba

Eu fiz a captura do aúdio em locação. Cheguei lá na cidade de origem dos grupos mesmo e era um esquema bem improvisado. A escolha não foi bem minha. Acho que já estava no conceito do projeto É uma gravação documentário. Não é nenhum disco feito em estúdio. É uma captura no lugar de origem do grupo. O processo de produção dele não foi convencional como seria hoje produzir um disco porque ele é meio documentário. Não dá pra fazer como se faz com músico de estúdio. Você vai gravar um instrumento, depois outro. Tem que ser todo mundo junto senão não funciona.  Porque o samba é muito alegre. É um encontro que eles fazem. Não é um show de música ensaiado que eles combinam os acordes. É uma outra relação, comportamento. Isso foi o objetivo mais perseguido. Era passar essa energia da coisa. Justamente por isso a gente foi lá, não trouxe eles cá (pro estúdio), pra eles não ficarem travados, não fluir. Era um encontro mesmo, né . Fazer a roda, tomar cachaça e sambar.

(Por Tadeu Mascarenhas)

Diário de gravação do documentário

Procuramos não utilizar iluminação artificial nas gravações, já que foram na sua totalidade feitas durante a parte do dia. Foram utilizados como locações tanto ambientes externos quanto internos e, nestes casos, em ambientes mais escuros buscamos solucionar o problema da luminosidade com a abertura de janelas, portas e até mesmo utilizando rebatedores de luz. Quanto à escolha das locações se deu principalmente pela proximidade das pessoas envolvidas com o espaço de vivência ou mesmo locais nos quais tinham uma relação maior; em relação a captura de áudio, foi feita separadamente em gravador digital sincronizado com o time code da câmera. Antes mesmo de realizarmos o trabalho na prática, já havíamos definido, no caso diretor e fotógrafo, a metodologia que seria utilizada para as gravações. Em nosso caso, utilizamos quase que em sua totalidade a câmera na mão e fazendo o uso de planos gerais, planos médios, planos de detalhe (close-up), contra planos, plongée, contra-plongée, travellings.

(Por Marcelo Rabelo)

Seleção dos aprendizes sambadores

Na seleção dos quatro assistentes sambadores, ouvimos a direção da ASSEBA e concordamos em selecionar inclusive dois lideres – Rosildo Moreira do Rosário, diretor da ASSEBA , e Fernando Santana , diretor e produtor do grupo Samba Chula de São Braz – que ,apesar da experiência acumulada, alegaram que  precisavam aprender mais com projetos profissionais de pesquisa e produção cultural. Uma outra assistente Ana Lucia Francisca de Anunciação foi selecionada porque é filha do Mestre Quadrado, uma mulher muito engajada na cultura regional da Ilha e com vontade e garra para aprender as funções de produtora e liderança, sem ter tido oportunidade de exercê-las. Paulo de Almeida Santos foi o selecionado na região do Semi-árido, pois o conhecemos através do trabalho com Bule-Bule nesta região e se revelou como jovem líder da comunidade local, demonstrando muito conhecimento e interesse pela cultura e um poder de agregação e articulação muito grande.

(Por Katharina Dohring).

Sambadores aprendizes: ação em parceria com a ASSEBA

A parceria com a Associação dos Sambadores e Sambadeiras do Estado da Bahia tem sido estável durante todo projeto e já era prevista na fase de concepção, em apoio ás medidas de preservação e revitalização do Samba de Roda, desde que foi consagrado  a patrimônio imaterial da Humanidade pela UNESCO. Uma das questões fundamentais é a participação de assistentes sambadores de modo a integrar as pessoas da zona rural em projetos de pesquisa e produção cultural, possibilitando a aprendizagem e o estágio prático que os incentivariam a desenvolver os próprios projetos em torno do samba de roda nas suas comunidades. O trabalho com os assistentes sambadores foi definido por região e cada assistente ficou responsável por quatro mestres na sua respectiva região para acompanhar o trabalho, manter os contatos com eles, levantar todos os dados necessários e mediar e combinar datas e viagens e gravações.

(Por Katharina Dohring)

Viola Machete: de Portugal para o Brasil colônia.

O machete é um tipo de viola de 10 cordas, dispostas no corpo do instrumento em 5 duplas de cordas, tal como as violas conhecidas em todo o Brasil como “violas caipiras”. Possui tamanho bem menor e timbre bem mais agudo e “brilhante” do que o violão, p. ex. Estes instrumentos de origem portuguesa chegaram ao Brasil durante o período colonial e logo se disseminaram pelo país, vindo a se tornar um dos instrumentos de cordas mais utilizados na música brasileira. O machete foi assimilado também pelos africanos trazidos para a região do Recôncavo Baiano, e acabou sendo incorporado às suas tradições musicais de modo tão peculiar que pode-se dizer que estes “africanizaram” a antiga maneira “portuguesa” de tocar a viola. Uma das tradições musicais em que o machete tem importância fundamental é no Samba de Viola e no Samba Chula, entre outras variações do Samba de Roda.

(Por Cássio Nobre)